quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Conversas com Sergio Werner

"ESTOU NA FRANÇA HA 11 ANOS, HÁ DEZ EM PARIS. Tanto a questão como vim parar em Paris, quanto como caí no Haiku (expressão interessante) são bases para pelo menos um conto. Eu poderia te dar as razões superficiais de como essas coisas acontecem (vim estudar na França e fiquei, fui a um evento sobre Haiku a convite de um amigo fotografo), etc. Sem querer nem chegar à sombra de alguém como a Susan Sontag ou um teorista de fotografia, encaro a fotografia como um descendente do Haiku (poesia japonesa). Muito da elaboração da fotografia é parecido, a questão do instantâneo, retrabalhar esse instantâneo, ir à essência.

Hoje em dia todo o mundo fotografa e eu sou apenas mais um. Fotografar tem que ser um prazer, e é ai que eu me coloco (como disse Kertesz, um fotografo dos anos 20-30, "Eu sou um amador, e quero ser sempre um amador."). A fotografia não é uma obrigação (tantos lugares a que eu fui e não bati uma só foto).

Faz alguns anos troquei minha reflex Canon por uma pequena Leica compacta, leve e fácil - talvez o ponto do Cartier Bresson, para ir comigo à qualquer lugar.

Um mínimo de técnica é essencial, e eu, particularmente, tenho muito pouca. Aprendi o que sei lendo e tentando. Depois de aprender duas ou três coisas sobre exposição, velocidade e abertura, foco, edição, o que eu li: composição em pintura e fotografia, os diários de viagem de Basho, outros autores de Haiku, "the intimate philosphy of art" do John Armstrong, ver pintura, ver fotografia e, se possível, com alguém para explicar.

Nunca tive contato com laboratórios, não tive tempo de me educar nisso, nem tenho onde ter um laboratório. Sempre senti uma certa inferioridade pelo fato de nunca ter colocado os pés num laboratório. Mas num certo sentido, sou filho do meu tempo. Tento me limitar a utilizar procedimentos que replicam o que foi feito até hoje em laboratório (procedimentos simples como o re-framing ou acerto da luminosidade, que são equivalentes ao tempo de exposição da ampliação, ou mais complicados como a solarização). Essa auto-limitação é um espécie de romantismo, claro, por que o digital permite e exige outras técnicas. Tenho experimentado com ampliações, mas não massivamente. Quero ficar melhor nisso.

Sou engenheiro de formação. Depois de mudar para Paris ataquei o lado linguagem. Eu acho que nessa ultima parte é que reside a verdadeira fotografia (mesmo se suas fronteiras sejam fluidas).

Muito do que eu fotografo hoje são imitações/inspirações. Exemplos:
a série de "Les Fleurs du Mal" me foi trazida por um livro de Matisse, onde ele ilustrou Baudelaire, "Les Balades du Dimanche" me veio dos diarios de viagem de Basho e "Inutil Paisagem" me veio de olhar pintura chinesa de paisagem (Shanshui). As fotos de viagem em geral não são inspiradas diretamente por ninguém.

E por aí vai".

Trechos do texto "Conversas com Sergio Werner", por Cassiano Viana

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