To shoot pictures.
Taking pictures is an act in time,
in which something is snapped out of its own time
and transferred into a different kind of duration.
It is commonly assumed
that whatever is captured in this act
lies IN FRONT OF the camera.
But that is not true.
Taking pictures is an act in two directions:
Forwards
AND backwards.
Yes, taking pictures also "backfires".
This isn't even too lame a comparison.
Just as the hunter lifts his rifle,
aims at the deer in front of him,
pulls the trigger,
and, when the bullet departs from the muzzle,
is thrown backwards by the recoil,
the photographer, likewise, is thrown backwards,
onto himself,
when releasing the shutter.
A photograph is always a double image,
showing, at first glance, its subject,
but at a second glance - more or less visible,
"hidden behind it", so to speak,
the "reverse angle":
the picture of the photographer
in action.
Just as the hunter is not struck by the bullet, though,
but only feels the recoil of the explosion,
this counter-image contained in every photograph
is not actually captured by the lens, either.
(Yet it remains somehow inextricably in the picture,
as an invisible impression of the photographer
that even gets developed within the dark room chemistry…)
What then is the recoil of the photographer?
How do you feel its impact?
How does it affect the subject
and which trace of it appears on the photograph?
In German, there is a most revealing word
for this phenomenon,
a word known from a variety of contexts:
"EINSTELLUNG".
It means the attitude
in which someone approaches something,
psychologically or ethically,
i.e. the way of attuning yourself
and then "taking it in".
But "Einstellung" is also a term from photography and film
signifying both the "take" (a particular shot and its framing),
as well as how the camera is adjusted
in terms of the aperture and exposure
by which the cameraman "takes" the picture. (…)
Wim Wenders
To Shoot Pictures
1/125avos de segundo
quarta-feira, 25 de junho de 2014
Wim Wenders, To Shoot Pictures
terça-feira, 3 de maio de 2011
Sempre aos Domingos: Ana em Abril
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Flavio Colker,
Sempre aos Domingos
Happy Birthday, Mister Colker
Por Cassiano Viana
A primeira vez que ouvi falar de Flavio Colker foi na década de 80, consumidor voraz que eu era de toda e qualquer informação disponível nas capas de discos e créditos de revistas. Depois, já nos tempos da faculdade, um grande amigo, a quem sempre deverei grande parcela da minha capacidade de discernimento e apreço pela arte, confirmou: “Sim, Flavio Colker é um grande fotógrafo. Um dos melhores”.Coisas da internet e nada que o tempo não resolva: eu devia a mim mesmo esse texto/entrevista elaborado a partir de algumas mensagens trocadas aqui no Facebook.
Quando e como você começou a fotografar?
Com 12 anos. Eu gostava de máquinas, era obcecado com relógios. Mudei a tara para máquinas fotográficas. Continuo tarado por máquinas, bicicletas, carros. Agora, porque eu continuei fotografando, sinceramente não sei.
Mas 12 anos não é muito cedo para fotografar? Geralmente a fotografia é algo que ocorre depois (creio).
Eu não jogava futebol. A partir daí, o sujeito é anormal. As fotos que eu faço agora são parecidas com o que eu fazia aos 12 anos. Não cresci.
Eu também não jogava futebol. Mas aos 12 fui para a música, tive banda de rock. As fotos que você tirou do rock nacional nos anos 80, início dos 90, são históricas.
Obrigado.
Fotografia é memória?
É uma espécie de dramaturgia.
Dramaturgia da memória?
Não, só memória. A matéria da fotografia é uma cena. Ou a cena é dada pelo acaso ou você a faz acontecer, como na foto de moda. Mas o acaso é a maior potência na fotografia. A fotografia tem o dedo surrealista, a impressão digital.
Mesmo o registro familiar?
Toda fotografia. O acaso é a maior força criativa dentro do tempo. Fotografar bem é observar o acaso. Os aparatos formais da fotografia são pouco importantes.
Onde entra a técnica?
No controle das texturas, no observar a luz. A câmera faz quase todo o processo. Não é como tocar guitarra, esculpir ou pintar. Quando existia laboratório, o processo era mais físico, o filme bem revelado tinha punch. Difícil é se movimentar bem. Cartier Bresson se movimentava rápido. Mas o importante é reconhecer a cena, fazer um conjunto de cenas, construí-las, sugerir uma narrativa.
Aquela capa pro Caetano [Caetano, de 1987] é um puta exemplo disso.
Eu reproduzi um desenho do Luiz Zerbini. A idéia é dele. Calhou de eu estar fotografando com aquelas perspectivas, as cores, o assunto sem foco. Eu tinha visto alguns planos num filme do Leo Carax, fotos do Anton Corbjin, do Mauricio Valadares e a partir daí fui reencontrar a lente normal e o 35mm. O Zerbini apareceu com o desenho para a capa e era muito natural, casava com o que eu fazia. Olha como o acaso é importante. Fiz uma serie de fotos assim para moda.
Qual a razão da fotografia?
Eu até hoje fotografo para deixar tudo mais leve. A fotografia é do Afetivo. O Barthes fala isso e os fotógrafos que mais me marcaram tinham isso: a motivação era a atração. A luz do sol é potencia maior do que o estúdio. O acaso maior do que o projeto. Eu dou aula e os fotógrafos com formação profissional perderam o contato com o mais interessante do ato de fotografar. Ficaram estetas, quando na fotografia é o assunto que interessa.
Como a literatura, a música, o cinema, entraram (e entram) no teu trabalho?
Através do retrato. As palavras e as imagens são mundos a parte. Os músicos, bem, eu tinha informação, consciência de que os anos 80 eram o tempo para o simulacionismo. Desde Stray Cats a Cindy Sherman e chegando no Vik Muniz. Simulação ainda é muito forte. Entendia o glamour dos anos 30, 40, o pré-moderno, assim como podia dar a volta nas cores oficiais da Kodak. Eu tinha técnica, adotava vários estilos e era rápido. E as sessões de retrato eram rápidas. Os primeiros músicos eu conhecia, os outros vieram depois. Minha vontade era o cinema. Daí, comecei a dirigir clips. Tinha sido assistente de direção e conhecia o set, sabia cumprir um plano de filmagem. Cheguei a fazer um filme de media metragem que deu muito certo (Metal Guru). Mas, voltando a tua pergunta, foi a literatura que me deu a possibilidade de entender o simulacionismo. Eu era fã de Raymond Chandler, de Los Angeles dos anos 30. O cyber punk. Eu pude entender o zeitgeist graças à literatura. Li muito quando era pré-adolescente. Hoje eu preciso escrever.
Qual o impacto da fotografia digital na tua motivação?
A fotografia digital me dá um enorme prazer. Torna tudo mais leve. As cores são muito mais fiéis ao que eu imagino e vejo. E a impressão em jato de tinta é muito bonita.
E a lomografia?
Lomo é superficial. Eu entendo o sujeito que é apaixonado por filme, Leica, Lomo, mas a fotografia está na cena e não na maquina, ou no fotografo. A máquina retarda a cena.
Eu acho que o lance da lomo é uma tentativa afetuosa de resgatar o romantismo, a experiência do laboratório, da química. De repente é uma necessidade de driblar o virtual, o digital.
Se dá prazer para o sujeito, ok, mas Lomo é efeito. Tem um puta fotografo de moda, o Terry Richardson, que usa uma Yashica, dessas que você compra na farmácia. Ele diz que é porque sempre sai em foco. Mais afetuoso porque é low tech? Acho que não. É nostálgico. Há um afeto pelas maquinas antigas, tudo bem, mas na hora de fazer arte essas coisas não são postas na mesa.
Você disse que hoje precisa escrever. Escrever sobre fotografia?
Pra começar.
E depois?
Depois não sei. Vou fazer o que puder fazer direito. Já escrevi roteiros de cinema. O Facebook é uma escrita. Vai ser por aí. Uma costura de impressões, relacionamentos.
Eu acho a internet uma puta vitória da palavra.
Concordo inteiramente. No principio era o verbo e no fim também.
Rio de Janeiro, novembro de 2010.
A primeira vez que ouvi falar de Flavio Colker foi na década de 80, consumidor voraz que eu era de toda e qualquer informação disponível nas capas de discos e créditos de revistas. Depois, já nos tempos da faculdade, um grande amigo, a quem sempre deverei grande parcela da minha capacidade de discernimento e apreço pela arte, confirmou: “Sim, Flavio Colker é um grande fotógrafo. Um dos melhores”.Coisas da internet e nada que o tempo não resolva: eu devia a mim mesmo esse texto/entrevista elaborado a partir de algumas mensagens trocadas aqui no Facebook.
Quando e como você começou a fotografar?
Com 12 anos. Eu gostava de máquinas, era obcecado com relógios. Mudei a tara para máquinas fotográficas. Continuo tarado por máquinas, bicicletas, carros. Agora, porque eu continuei fotografando, sinceramente não sei.
Mas 12 anos não é muito cedo para fotografar? Geralmente a fotografia é algo que ocorre depois (creio).
Eu não jogava futebol. A partir daí, o sujeito é anormal. As fotos que eu faço agora são parecidas com o que eu fazia aos 12 anos. Não cresci.
Eu também não jogava futebol. Mas aos 12 fui para a música, tive banda de rock. As fotos que você tirou do rock nacional nos anos 80, início dos 90, são históricas.
Obrigado.
Fotografia é memória?
É uma espécie de dramaturgia.
Dramaturgia da memória?
Não, só memória. A matéria da fotografia é uma cena. Ou a cena é dada pelo acaso ou você a faz acontecer, como na foto de moda. Mas o acaso é a maior potência na fotografia. A fotografia tem o dedo surrealista, a impressão digital.
Mesmo o registro familiar?
Toda fotografia. O acaso é a maior força criativa dentro do tempo. Fotografar bem é observar o acaso. Os aparatos formais da fotografia são pouco importantes.
Onde entra a técnica?
No controle das texturas, no observar a luz. A câmera faz quase todo o processo. Não é como tocar guitarra, esculpir ou pintar. Quando existia laboratório, o processo era mais físico, o filme bem revelado tinha punch. Difícil é se movimentar bem. Cartier Bresson se movimentava rápido. Mas o importante é reconhecer a cena, fazer um conjunto de cenas, construí-las, sugerir uma narrativa.
Aquela capa pro Caetano [Caetano, de 1987] é um puta exemplo disso.
Eu reproduzi um desenho do Luiz Zerbini. A idéia é dele. Calhou de eu estar fotografando com aquelas perspectivas, as cores, o assunto sem foco. Eu tinha visto alguns planos num filme do Leo Carax, fotos do Anton Corbjin, do Mauricio Valadares e a partir daí fui reencontrar a lente normal e o 35mm. O Zerbini apareceu com o desenho para a capa e era muito natural, casava com o que eu fazia. Olha como o acaso é importante. Fiz uma serie de fotos assim para moda.
Qual a razão da fotografia?
Eu até hoje fotografo para deixar tudo mais leve. A fotografia é do Afetivo. O Barthes fala isso e os fotógrafos que mais me marcaram tinham isso: a motivação era a atração. A luz do sol é potencia maior do que o estúdio. O acaso maior do que o projeto. Eu dou aula e os fotógrafos com formação profissional perderam o contato com o mais interessante do ato de fotografar. Ficaram estetas, quando na fotografia é o assunto que interessa.
Como a literatura, a música, o cinema, entraram (e entram) no teu trabalho?
Através do retrato. As palavras e as imagens são mundos a parte. Os músicos, bem, eu tinha informação, consciência de que os anos 80 eram o tempo para o simulacionismo. Desde Stray Cats a Cindy Sherman e chegando no Vik Muniz. Simulação ainda é muito forte. Entendia o glamour dos anos 30, 40, o pré-moderno, assim como podia dar a volta nas cores oficiais da Kodak. Eu tinha técnica, adotava vários estilos e era rápido. E as sessões de retrato eram rápidas. Os primeiros músicos eu conhecia, os outros vieram depois. Minha vontade era o cinema. Daí, comecei a dirigir clips. Tinha sido assistente de direção e conhecia o set, sabia cumprir um plano de filmagem. Cheguei a fazer um filme de media metragem que deu muito certo (Metal Guru). Mas, voltando a tua pergunta, foi a literatura que me deu a possibilidade de entender o simulacionismo. Eu era fã de Raymond Chandler, de Los Angeles dos anos 30. O cyber punk. Eu pude entender o zeitgeist graças à literatura. Li muito quando era pré-adolescente. Hoje eu preciso escrever.
Qual o impacto da fotografia digital na tua motivação?
A fotografia digital me dá um enorme prazer. Torna tudo mais leve. As cores são muito mais fiéis ao que eu imagino e vejo. E a impressão em jato de tinta é muito bonita.
E a lomografia?
Lomo é superficial. Eu entendo o sujeito que é apaixonado por filme, Leica, Lomo, mas a fotografia está na cena e não na maquina, ou no fotografo. A máquina retarda a cena.
Eu acho que o lance da lomo é uma tentativa afetuosa de resgatar o romantismo, a experiência do laboratório, da química. De repente é uma necessidade de driblar o virtual, o digital.
Se dá prazer para o sujeito, ok, mas Lomo é efeito. Tem um puta fotografo de moda, o Terry Richardson, que usa uma Yashica, dessas que você compra na farmácia. Ele diz que é porque sempre sai em foco. Mais afetuoso porque é low tech? Acho que não. É nostálgico. Há um afeto pelas maquinas antigas, tudo bem, mas na hora de fazer arte essas coisas não são postas na mesa.
Você disse que hoje precisa escrever. Escrever sobre fotografia?
Pra começar.
E depois?
Depois não sei. Vou fazer o que puder fazer direito. Já escrevi roteiros de cinema. O Facebook é uma escrita. Vai ser por aí. Uma costura de impressões, relacionamentos.
Eu acho a internet uma puta vitória da palavra.
Concordo inteiramente. No principio era o verbo e no fim também.
Rio de Janeiro, novembro de 2010.
Fotos Flavio Colker |
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Fotografia
segunda-feira, 2 de maio de 2011
CatParty
Por Flavio Colker
EU AMO O BLOG DA CHELSEA, catparty (http://ilovecatparty.blogspot.com/): Ela e Megan tem uma atitude desafiadora, uma relação visceral com a moda e a imagem que desafia o racionalismo opressor do cotidiano. Elas acreditam na imagem como um Bem, uma virtude a ser cultivada. Essa “necessidade” de fotografia, roupa, teatro, me comove profundamente e há uma tribo internacional de boêmios, artistas, inconformistas para quem a vida só pode ser vivida quando se exercita um “look”. Oscar Wilde dizia que as aparências nunca enganam. Ele, Morrissey, Channel, Moyses Ferreira, Claudio Bueno, America Cupello, Claudinho, Boy George, Marcelo De Gang, Richard, Marcelo MF e muitos outros stars, sabem que a aparência é profunda como os abismos da alma.
Moda é um business, mas também é uma maneira de vencer a indignidade e a humilhação. Uma maneira de doar algo: o seu look. Doar imagens as ruas para que fiquem mais atraentes e o mundo mais sedutor. Os Fashion bohemians deveriam ser condecorados todos os anos nas prefeituras, em cerimônias importantes, como um reconhecimento por serviços prestados a civilidade de cada cidade.
EU AMO O BLOG DA CHELSEA, catparty (http://ilovecatparty.blogspot.com/): Ela e Megan tem uma atitude desafiadora, uma relação visceral com a moda e a imagem que desafia o racionalismo opressor do cotidiano. Elas acreditam na imagem como um Bem, uma virtude a ser cultivada. Essa “necessidade” de fotografia, roupa, teatro, me comove profundamente e há uma tribo internacional de boêmios, artistas, inconformistas para quem a vida só pode ser vivida quando se exercita um “look”. Oscar Wilde dizia que as aparências nunca enganam. Ele, Morrissey, Channel, Moyses Ferreira, Claudio Bueno, America Cupello, Claudinho, Boy George, Marcelo De Gang, Richard, Marcelo MF e muitos outros stars, sabem que a aparência é profunda como os abismos da alma.
Moda é um business, mas também é uma maneira de vencer a indignidade e a humilhação. Uma maneira de doar algo: o seu look. Doar imagens as ruas para que fiquem mais atraentes e o mundo mais sedutor. Os Fashion bohemians deveriam ser condecorados todos os anos nas prefeituras, em cerimônias importantes, como um reconhecimento por serviços prestados a civilidade de cada cidade.
quinta-feira, 31 de março de 2011
Sempre aos domingos
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Flavio Colker,
Pia LesPaul,
Sempre aos Domingos
Tha Ballad of Patti Smith
por Pia LesPaul, domingo, 13 de fevereiro de 2011 às 23:57
YOU MADE IT
Carrying your own sins
Drawing the line
Fingerprints never fade from the lifes you touch
Purple necklace, lettuce sandwiches, bookstores, New York
Gratefully shouting
Thank you
Thank you very much
Wearing words in place of wounds
A fierce heart for the next generation
Optimism offered as souvenir for lost souls
What can I give you in return, salvation?
You knew how to give your life everyday
Proclaiming random verbs of love
At Chelsea
The poet lives on the second floor
Who cares JJ is right above?
If the night belongs to lovers
Lets ride horses until the dawn
Sculptured
We´re solid bodies of a dream
The art from 1946
´Til forever unknown
Holding hands with the two R Boys
A bus ride
Moneyless
A sidewalk
The artist´s bed
Keith Richard´s style
Upon your head
The rock, the roll
By you spread
Regards
P.S
Say hi to Fred
YOU MADE IT
Carrying your own sins
Drawing the line
Fingerprints never fade from the lifes you touch
Purple necklace, lettuce sandwiches, bookstores, New York
Gratefully shouting
Thank you
Thank you very much
Wearing words in place of wounds
A fierce heart for the next generation
Optimism offered as souvenir for lost souls
What can I give you in return, salvation?
You knew how to give your life everyday
Proclaiming random verbs of love
At Chelsea
The poet lives on the second floor
Who cares JJ is right above?
If the night belongs to lovers
Lets ride horses until the dawn
Sculptured
We´re solid bodies of a dream
The art from 1946
´Til forever unknown
Holding hands with the two R Boys
A bus ride
Moneyless
A sidewalk
The artist´s bed
Keith Richard´s style
Upon your head
The rock, the roll
By you spread
Regards
P.S
Say hi to Fred
Fora do calendário
Por Cassiano Viana
EM 1989, O CINEASTA ALEMÃO WIM WENDERS rodou, a convite do Centro Georges Pompidou, um documentário sobre o estilista japonês Yohji Yamamoto. "The world of fashion. I'm interested in the world, not in fashion! But, maybe I was too quick to put down fashion”, diz Wenders, nos primeiros instantes de Identidade de Nós Mesmos (Notebook on Cities and Clothes).
E se moda e cinema têm algo em comum, o que dizer da relação entre moda e fotografia? O que dizer do impacto, para a moda, da fotografia de nomes como Richard Avedon, Helmut Newton, Patrick Demarchelier, Mario Testino e Annie Leibovitz? Como negar a importância do mercado editorial e de revistas como Vogue, Elle e Harper’s Bazaar para a moda?
A fotografia usa a moda ou é o contrário? Teoricamente, o propósito da fotografia na moda seria o mesmo de um catálogo: exibir roupas e vendê-las. Na prática, a fotografia desde sempre foi um veículo de expressão de grandes fotógrafos.
Julia Valle tem uma visão bem definida de seu trabalho e da relação entre fotografia e moda: “Eu faço roupa, e ponto final. Não tenho preocupação em fazer parte de um calendário de moda, em montar coleções de verão, inverno, em fazer a roupa que vai ser o hit da estação, às vezes nem tem a preocupação da roupa ser usada. Ela pode não ser usada também e ficar dependurada na parede”. Justamente por isso, Julia pode ser a pessoa indicada para falar, de uma forma não deslumbrada, sobre fotografia e moda.
O que te levou à moda?
Acho que foi o desgosto pela moda. Quando criança era meio contra tudo que estava em voga. Pra mim sempre estava errado o que as pessoas usavam, queria o contrário. A princípio eu achava que era desgosto mesmo pela moda, com o tempo fui descobrindo que era gosto demais. Como sou muito pequena, comecei a costurar minhas roupas, meu pai me ensinou o básico. Depois fui buscando aprender mais, cursos de corte e costura, livros, até que resolvi assumir aquela curiosidade toda e fui estudar estilo. E dai não teve mais volta.
Teoricamente, o propósito da fotografia na moda seria o mesmo de um catálogo: exibir roupas e vendê-las? (quando, na prática, a fotografia desde sempre foi um veículo de expressão de grandes fotógrafos).
Não acho que o propósito primeiro da fotografia na moda seja esse, mas hoje em dia quase tudo tem esse propósito, de fazer dinheiro. As marcas acabaram comprando a fotografia editorial pra si no intuito de agregar valor aos seus produtos e, no fim, vender mais, ou melhor. É tipo o hotel que compra a obra de um grande artista para colocar no hall de entrada. É como se fosse um aval de que a coisa é boa e vale a pena.
Acho que na essência a fotografia de moda é o que qualquer outra forma de representação artística de um universo ou momento histórico também é, capturar todo um cenário sociológico, cultural, político, etc, e transformar em uma imagem, estática ou não, e ganha valor quando é bela, para aquele tempo, para um tempo futuro, etc.
É o mercado editorial quem dita a moda? Quais as melhores revistas de moda? O que faz uma boa revista de moda?
Boa para quem?
Isso já é parte da resposta.
A gente precisa muito da imagem da fotografia de moda para apresentar propostas/ambientação e moods de coleção. Como e porque usar o que foi desenhado, sem essas imagens, ainda que tenhamos desfiles, é bem complicado. O mercado editorial já ajuda muito mais na formação de tendências de uma coleção que efetivamente promove vendas. Temos um bocado de publicações de moda, e talvez seja ate a área que mais conta com publicações tanto aqui quanto fora. Eu adoro as revistas tipo moda moldes e manequim, por exemplo.
As mais confiáveis são ainda as internacionais licenciadas no Brasil, como Vogue, Elle e L'Officiel. As de moldes são ótimas para o publico que não tem poder aquisitivo pra comprar marcas, mas que detém o conhecimento de corte e costura, então podem reproduzir rapidinho o que estava nas passarelas. Essas pops são confiáveis porque já fizeram uma filtrada boa do que acontece tanto aqui quanto fora, tem o aval das editoras internacionais (que querendo ou não ainda são as grandes ditadoras de moda no mundo). São boas para interessadas no assunto, mas que não querem ter que digerir e processar cada imagem que vêem.
A fotografia usa a moda ou a moda usa a fotografia?
Tem um preconceito generalizado com a moda. A gente ainda demora um tempo para conseguir fazer a arte têxtil ser reconhecida como arte. E por mais que já existam exposições de indumentárias em museus de historia e artes aplicadas, o numero de fotógrafos de moda que conseguem esse status de artista é ainda muito maior.
A fotografia já tem o reconhecimento há muito mais tempo, até no numero e tempo das academias que oferecem cursos de graduação/mestrado/doutorado na área da fotografia. Por mais que seja já quase secular em alguns países (tipo França), a moda ainda esta bem no começo. Pensa no Brasil, nossa primeira escola de moda não tem muito mais que 20 anos.
Gosto muito da construção da roupa, do tanto de significações que cada peça carrega, de tecido, de modelagem...Acho que é o foco do meu trabalho. Na minha produção autoral eu não falo de moda.
Por que você diz: “Na minha produção autoral eu não falo de moda”?
A moda está sujeita a todas essas sazonalidades de estilo, estações, tendências, modas, e é isso que define uma roupa como moda. O Roland Barthes tem umas categorizações muito duras, mas que eu acho ótimas. Falar de moda é falar de uma peça de roupa que tem um tempo de duração. Eu faço roupa, e ponto final. Não tenho essas preocupações em fazer parte de um calendário de moda, em montar coleções de verão, inverno, em fazer a roupa que vai ser o hit da estação, às vezes nem tem a preocupação da roupa ser usada. Ela pode não ser usada também e ficar dependurada na parede.
Mas a fotografia, as revistas de moda não seriam um primeiro clique, quando o guri ou guria pega uma Vogue e pensa: quero fazer isso!
Talvez. Talvez goste de tecido. Talvez goste de USAR roupa. Talvez goste de costura. Talvez goste de COMPRAR roupa. Acho que tem um bocado de razões. Antes de entrar efetivamente no mercado, até mesmo dentro da faculdade, acho que os estudantes brasileiros não têm uma noção tão clara do que é ser profissional de moda. Fazer moda não é só estilo.
Se você fosse escolher um fotógrafo, de qualquer tempo, para fotografar a teu trabalho, qual seria?
Guy Bourdin ou um amigo que eu adoro, o Gustavo Marx.
EM 1989, O CINEASTA ALEMÃO WIM WENDERS rodou, a convite do Centro Georges Pompidou, um documentário sobre o estilista japonês Yohji Yamamoto. "The world of fashion. I'm interested in the world, not in fashion! But, maybe I was too quick to put down fashion”, diz Wenders, nos primeiros instantes de Identidade de Nós Mesmos (Notebook on Cities and Clothes).
E se moda e cinema têm algo em comum, o que dizer da relação entre moda e fotografia? O que dizer do impacto, para a moda, da fotografia de nomes como Richard Avedon, Helmut Newton, Patrick Demarchelier, Mario Testino e Annie Leibovitz? Como negar a importância do mercado editorial e de revistas como Vogue, Elle e Harper’s Bazaar para a moda?
A fotografia usa a moda ou é o contrário? Teoricamente, o propósito da fotografia na moda seria o mesmo de um catálogo: exibir roupas e vendê-las. Na prática, a fotografia desde sempre foi um veículo de expressão de grandes fotógrafos.
Julia Valle tem uma visão bem definida de seu trabalho e da relação entre fotografia e moda: “Eu faço roupa, e ponto final. Não tenho preocupação em fazer parte de um calendário de moda, em montar coleções de verão, inverno, em fazer a roupa que vai ser o hit da estação, às vezes nem tem a preocupação da roupa ser usada. Ela pode não ser usada também e ficar dependurada na parede”. Justamente por isso, Julia pode ser a pessoa indicada para falar, de uma forma não deslumbrada, sobre fotografia e moda.
O que te levou à moda?
Acho que foi o desgosto pela moda. Quando criança era meio contra tudo que estava em voga. Pra mim sempre estava errado o que as pessoas usavam, queria o contrário. A princípio eu achava que era desgosto mesmo pela moda, com o tempo fui descobrindo que era gosto demais. Como sou muito pequena, comecei a costurar minhas roupas, meu pai me ensinou o básico. Depois fui buscando aprender mais, cursos de corte e costura, livros, até que resolvi assumir aquela curiosidade toda e fui estudar estilo. E dai não teve mais volta.
Teoricamente, o propósito da fotografia na moda seria o mesmo de um catálogo: exibir roupas e vendê-las? (quando, na prática, a fotografia desde sempre foi um veículo de expressão de grandes fotógrafos).
Não acho que o propósito primeiro da fotografia na moda seja esse, mas hoje em dia quase tudo tem esse propósito, de fazer dinheiro. As marcas acabaram comprando a fotografia editorial pra si no intuito de agregar valor aos seus produtos e, no fim, vender mais, ou melhor. É tipo o hotel que compra a obra de um grande artista para colocar no hall de entrada. É como se fosse um aval de que a coisa é boa e vale a pena.
Acho que na essência a fotografia de moda é o que qualquer outra forma de representação artística de um universo ou momento histórico também é, capturar todo um cenário sociológico, cultural, político, etc, e transformar em uma imagem, estática ou não, e ganha valor quando é bela, para aquele tempo, para um tempo futuro, etc.
É o mercado editorial quem dita a moda? Quais as melhores revistas de moda? O que faz uma boa revista de moda?
Boa para quem?
Isso já é parte da resposta.
A gente precisa muito da imagem da fotografia de moda para apresentar propostas/ambientação e moods de coleção. Como e porque usar o que foi desenhado, sem essas imagens, ainda que tenhamos desfiles, é bem complicado. O mercado editorial já ajuda muito mais na formação de tendências de uma coleção que efetivamente promove vendas. Temos um bocado de publicações de moda, e talvez seja ate a área que mais conta com publicações tanto aqui quanto fora. Eu adoro as revistas tipo moda moldes e manequim, por exemplo.
As mais confiáveis são ainda as internacionais licenciadas no Brasil, como Vogue, Elle e L'Officiel. As de moldes são ótimas para o publico que não tem poder aquisitivo pra comprar marcas, mas que detém o conhecimento de corte e costura, então podem reproduzir rapidinho o que estava nas passarelas. Essas pops são confiáveis porque já fizeram uma filtrada boa do que acontece tanto aqui quanto fora, tem o aval das editoras internacionais (que querendo ou não ainda são as grandes ditadoras de moda no mundo). São boas para interessadas no assunto, mas que não querem ter que digerir e processar cada imagem que vêem.
A fotografia usa a moda ou a moda usa a fotografia?
Tem um preconceito generalizado com a moda. A gente ainda demora um tempo para conseguir fazer a arte têxtil ser reconhecida como arte. E por mais que já existam exposições de indumentárias em museus de historia e artes aplicadas, o numero de fotógrafos de moda que conseguem esse status de artista é ainda muito maior.
A fotografia já tem o reconhecimento há muito mais tempo, até no numero e tempo das academias que oferecem cursos de graduação/mestrado/doutorado na área da fotografia. Por mais que seja já quase secular em alguns países (tipo França), a moda ainda esta bem no começo. Pensa no Brasil, nossa primeira escola de moda não tem muito mais que 20 anos.
Gosto muito da construção da roupa, do tanto de significações que cada peça carrega, de tecido, de modelagem...Acho que é o foco do meu trabalho. Na minha produção autoral eu não falo de moda.
Por que você diz: “Na minha produção autoral eu não falo de moda”?
A moda está sujeita a todas essas sazonalidades de estilo, estações, tendências, modas, e é isso que define uma roupa como moda. O Roland Barthes tem umas categorizações muito duras, mas que eu acho ótimas. Falar de moda é falar de uma peça de roupa que tem um tempo de duração. Eu faço roupa, e ponto final. Não tenho essas preocupações em fazer parte de um calendário de moda, em montar coleções de verão, inverno, em fazer a roupa que vai ser o hit da estação, às vezes nem tem a preocupação da roupa ser usada. Ela pode não ser usada também e ficar dependurada na parede.
Mas a fotografia, as revistas de moda não seriam um primeiro clique, quando o guri ou guria pega uma Vogue e pensa: quero fazer isso!
Talvez. Talvez goste de tecido. Talvez goste de USAR roupa. Talvez goste de costura. Talvez goste de COMPRAR roupa. Acho que tem um bocado de razões. Antes de entrar efetivamente no mercado, até mesmo dentro da faculdade, acho que os estudantes brasileiros não têm uma noção tão clara do que é ser profissional de moda. Fazer moda não é só estilo.
Se você fosse escolher um fotógrafo, de qualquer tempo, para fotografar a teu trabalho, qual seria?
Guy Bourdin ou um amigo que eu adoro, o Gustavo Marx.
Fotos Patrícia Rezende |
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